sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Conhecimento 1



Disciplina: Filosofia – Professor: JAIR LUÍS BACKES/ TIAGO ÁVILA

TEORIA DO CONHECIMENTO:
AS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO[1]
Somos capazes de conhecer a verdade? É possível ao sujeito apreender o objeto? Afinal, quais são as possibilidades do conhecimento humano?
As respostas dadas a essas questões levaram ao surgimento de suas correntes básicas e antagônicas na história da filosofia. Uma é o ceticismo, que prega a impossibilidade de conhecermos a verdade. A outra é o dogmatismo, que defende a possibilidade de conhecermos a verdade.
Vejamos, agora, algumas das teses das principais correntes do ceticismo e do dogmatismo.

Ceticismo absoluto: tudo é ilusório e passageiro
O ceticismo absoluto consiste em negar de forma total nossa possibilidade de conhecer a verdade. Assim, para o ceticismo absoluto, o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer.
Muitos consideram o filósofo grego Górgias (485-380 a.C.) o pai do ceticismo absoluto. Segundo ele: “o ser não existe; se existisse não poderíamos conhecê-lo; e se pudéssemos conhecê-lo, não poderíamos comunicá-lo aos outros”.
Outros estudiosos apontam o filósofo grego Pirro (365-275 a.C.) como o fundador do ceticismo absoluto. Pirro afirmava ser impossível ao homem conhecer a verdade devido a duas fontes principais de erro:
·          os sentidos – segundo Pirro, nossos conhecimentos são provenientes dos sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar). Mas eles não são dignos de confiança, pois podem no induzir ao erro;
·          a razão – para Pirro, as diferentes e contraditórias opiniões manifestadas pelos homens sobre os mesmos assuntos revelam os limites de nossa inteligência. Jamais alcançaremos certeza de qualquer coisa.
Os críticos do ceticismo absoluto afirmam que ele é uma doutrina radical, estéril e contraditória. Radical porque nega totalmente a possibilidade de conhecer. Estéril porque não leva a nada. Contraditória porque anula a si própria, pois ao dizer que nada é verdadeiro, acaba afirmando que pelo menos existe algo de verdadeiro, isto é, o conhecimento de que nada é verdadeiro.

Ceticismo relativo: o domínio do aparente e do provável
O ceticismo relativo consiste numa posição moderada em relação ao ceticismo absoluto, pois nega apenas parcialmente nossa capacidade de conhecer a verdade.
Entre as doutrinas que manifestam um ceticismo relativo, destacamos as seguintes:
·          subjetivismo – considera o conhecimento uma relação puramente subjetiva e pessoal entre o sujeito e a realidade percebida. O conhecimento limita-se às ideias e representações elaboradas pelo sujeito perante, sendo impossível alcançar a objetividade. A origem do subjetivismo está no grego Protágoras, sofista do século V a.C. que dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”;
·          relativismo – entende que não existem verdades absolutas, mas apenas verdades relativas, que tem uma validade limitada a um certo tempo, a uma situação determinada, etc.;
·          probabilismo – propõe que nosso conhecimento é incapaz de atingir a certeza plena. O que podemos alcanças é uma verdade provável. Essa probabilidade pode ser digna de maior ou menor credibilidade, mas nunca chegará ao nível da certeza completa, da verdade absoluta;
·          pragmatismo – propõe uma concepção dos homens como seres práticos, ativos, e não apenas como seres pensantes. Por isso, abandonam a pretensão de alcançar a verdade, entendendo-se verdade como a concordância entre o pensamento e a realidade. Para o pragmatismo, o conceito de verdade deve ser outro: verdadeiro é aquilo que é útil, que dá certo, que serve aos interesses das pessoas na sua vida prática.

Dogmatismo: a certeza da verdade
Uma doutrina é dogmática quando defende, de forma categórica, a possibilidade de atingirmos a verdade. Dentro do dogmatismo, podemos distinguir duas variantes básicas:
·          dogmatismo ingênuo – predominante no senso comum, consiste em acreditar plenamente nas possibilidades do nosso conhecimento. O dogmatismo ingênuo não vê problema na relação sujeito conhecedor e objeto conhecido. Acredita que, sem grandes dificuldades, percebemos o mundo tal qual ele é;
·          dogmatismo crítico – acredita em nossa capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço conjugado de nossos sentidos e de nossa inteligência. Confia que, através de um trabalho metódico, racional e científico, o ser humano se torna capaz de conhecer a realidade do mundo.

Criticismo: a superação do ceticismo e do dogmatismo
O criticismo, desenvolvido pela filosofia de Kant, no século XVIII, representa uma tentativa de superação tanto do ceticismo quanto do dogmatismo. Tal como o dogmatismo, acredita na possibilidade do conhecimento, mas se pergunta pelas reais condições nas quais seria possível esse conhecimento. Não se trata mais de uma posição ingênua, mas de uma posição crítica diante da possibilidade de conhecer.
O resultado dessa postura crítica leva a uma distinção radical entre o que o nosso entendimento pode conhecer e o que não pode. Ou seja, o criticismo admite a possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento é limitado e ocorre sob condições específicas, descritas na obra Crítica da Razão Pura, de Kant.

ORIGEM: AS FONTES DO CONHECIMENTO
Para aqueles que admitem a possibilidade do conhecimento humano, resta perguntar: De onde se originam os conhecimentos? De onde se originam as ideias, os conceitos, as representações?
De acordo com a resposta dada a esse problema, podemos destacar as seguintes correntes filosóficas: o empirismo e o racionalismo.

Empirismo: a valorização dos sentidos como fonte primordial
A palavra empirismo tem sua origem no grego empeiria, que significa “experiência sensorial”.
O empirismo defende que todas as nossas ideias são provenientes de nossas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato). Em outras palavras, ditas por Locke: “nada vem à mente sem ter passado pelos sentidos”.
O filósofo empirista inglês John Locke (1632-1704) afirmava também que, ao nascermos, nossa mente é como um papel em branco, completamente desprovida de ideias. De onde provém, então, o vasto conjunto de ideias que existe na mente humana? A isso, Locke responde com uma só palavra: da experiência, que resulta da observação dos dados sensoriais.

Racionalismo: confiança exclusiva na razão
A palavra racionalismo deriva do latim ratio, que significa “razão”. O termo é empregado de muitas maneiras. Aqui, racionalismo está sendo empregado para designar a doutrina que atribui exclusiva confiança na razão humana como instrumento capaz de conhecer a verdade. Ou, como recomendou o filósofo racionalista Descartes: “nunca nos devemos deixar persuadir senão pela evidência de nossa razão”.
Os racionalistas afirmam que a experiência sensorial é uma fonte permanente de erros e confusões sobre a complexa realidade do mundo. Somente a razão humana, trabalhando com os princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos fundamentais seriam inatos, isto é, eles já estão na mente do homem desde o seu nascimento. Daí por que a razão deve ser considerada como a fonte básica do conhecimento.

Entre o Empirismo e o Racionalismo
Vimos que o empirismo considera a experiência dos sentidos como a base do conhecimento. Já o racionalismo afirma ser a razão humana a verdadeira fonte do conhecimento.
Procurando um meio-termo para essas duas visões opostas e radicais, existem outras posições filosóficas, entre as quais podemos destacar o apriorismo kantiano.
Buscando uma solução para o impasse criado pelo racionalismo e o empirismo, Kant afirma que todo conhecimento começa com a experiência, mas que a experiência sozinha não nos dá conhecimento. Ou seja, é preciso um trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência. Por isso, ele buscou saber como é o sujeito a priori, isto é, antes de qualquer experiência, e concluiu que existem no homem certas faculdades ou estruturas (que Kant denomina formas da sensibilidade e do entendimento) que possibilitam a experiência e determinam o conhecimento. Para Kant, portanto, a experiência forneceria a matéria do conhecimento (os seres do mundo), enquanto a razão organizaria essa matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas existentes a priori no pensamento (daí o nome apriorismo).
QUESTÕES:
1. Qual a diferença básica entre dogmatismo ingênuo e dogmatismo crítico?
2. Explique o sentido da afirmação empirista: “Ao nascermos, nossa mente é como um papel em branco”.
3. De que maneira Kant resolve o impasse criado por racionalistas e empiristas?


[1] Fonte: COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas. 15. ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

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